sábado, 6 de novembro de 2010

5 casos de bom casting...em filmes intragáveis

 Theodore Sturgeon teorizou um dia que 90% de tudo é uma porcaria. Um número obviamente não muito exacto, mais uma estimativa aproximada. Claro que o que um considera porcaria, pode ser considerado o novo "fresco da mona lisa sistina" por outro. Mas, pensando bem, se uma pessoa estimar a percentagem exacta do que considera porcaria e esse número for muito superior ou inferior a 90%, provavelmente será porque tem os padrões respectivamente muito altos ou muito baixos.

E se pensarmos mais um bocado, vemos que se 90% de tudo é porcaria, então só 90% dessa porcaria é, de facto, porcaria.

Engraçadinho isto da matemática aplicada à ficção, não é? O que eu fiz aqui foi exactamente identificar uns 10% de não-porcaria  a partir dos 90% de porcaria de 5 casos diferentes que fossem tematicamente semelhantes.
E, como é compreensível, escolhi a primeira coisa de que todos falamos quando saímos de uma sala de cinema: o casting (provavelmente não daria um bom sociólogo).

Sem me demorar, que isto paga-se ao parágrafo, aí estão 5 casos de boas decisões de casting que, obviamente, não chegam para disfarçar o cheiro dos respectivos filmes;

<NOTA: estes são "5 casos" e não um "countdown". Doravante, isso será claro pela ordem pela qual aparecem os algarismos. Se ainda não perceberam; se começa no 1 e acaba no 5, são apenas 5 casos diferentes; se começa no 5 e acaba no 1 é um "top 5".>



#1


Snakes On a Plane - Samuel L. Jackson


Este é quase auto-explicativo. O filme é mau, o Samuel L. "bad motha' fucka'" Jackson só aceitou o papel por causa do nome. Aliás, ele aceitou-o imediatamente, sem ler sequer o guião.
Este filme, para quem não andou a surfar na web entre 2005 e 2006, criou um impacto gigantesco entre várias comunidades, tornando-se num filme de culto mesmo antes de saír.
Cobras dentro de um avião durante hora e meia? Parece quase parvo o suficiente para ser entretenimento puro. Quase, dizia eu, porque faltava uma coisa: o Samuel L. Jackson lá dentro.
Hordes e hordes de cibernautas fabricavam e compravam t-shirts, na antecipação de ver o rei dos dizedores palavrões a dizer "Motha' fuckin' snakes on the motha' fuckin' plane".

O filme foi um fiasco de bilheteiras, e essa fala claramente foi metida a posteriori, apenas para não desapontar as 15 pessoas que foram ver ao cinema.
Afinal, pode-se ver a fala no youtube, poupando-se assim 89 minutos e 50 segundos de vida.

Mas se este filme é sequer falado ou lembrado, é porque tem o Samuel L. Jackson lá dentro. E isso, é o que interessa aqui.


#2

Astérix et Obélix contre César - Gérard Depardieu


De certeza que já muitos tinham pensado nisso; "como seria uma adaptação do Astérix ao cinema?". Bem, acabaram por responder a essa pergunta, e só uma coisa nos passava pela cabeça: "Estes franceses são doidos!". E não é doidos no sentido de "este filme é tão engraçado, que doidos que eles são". É no sentido "é preciso ser-se doido para se lançar para o cinema um filme que parece que caiu num caldeirão de piadas desinspiradas quando era pequenino" .
E pior: decidiram incluir o nome de René Goscinny nos créditos, na parte do "escrito por", como se já não tivessem feito suficiente ao homem.
No entanto, há uma coisa que está fiel à nossa aldeia de gauleses irredutíveis favorita: Gérard Depardieu.
Se uma das virtudes desta banda desenhada é o rigor histórico daquilo, então o gajo deve ser gaulês puro. Falo, claro, do seu nariz. E que belo nariz.
Basta fazer com a barriga dele o que fizeram ao peito da Angelina Jolie no Tomb Raider, e de repente o gajo é exactamente o Obelix.
Como é possível juntar-se o Depardieu como Obélix ao Roberto Benigni e ao Astérix e obter-se...aquilo? Ainda hoje me ultrapassa.


#3


The Flintstones - John Goodman


Este é quase uma versão americana do caso anterior. Só que enquanto é doloroso ver Astérix a ser estragado assim, ver os Flintstones em filme...não seria de esperar outra coisa (consta que o ponto alto do filme é Fred a saltar no ar e a dizer "Yabadabadoo!").
Os desenhos animados eram uma seca, tal como quase todos da Hanna-Barbera (top cat, scooby doo, the jetsons, captain caveman, space ghost....). Mas eu era uma criança, estava a chover lá fora e estavam a dar desenhos animados na tv. Não tinha escolha, estava condicionado.
Vi o filme quando era miúdo, já não me lembro de quase nada, mas uma coisa é certa: John Goodman é a pessoa certa para fazer de Fred Flintstone. Durante anos, quando o via pensava sempre "olha o Fred!". Aliás, o gajo é mais parecido com o Fred Flintstone do que aquele cão feito a computador o é do Scooby Doo, no filme "Scooby Doo" (adaptar o Scooby Doo ao cinema? Até dá para nos bronzearmos com o brilhantismo de Hollywood). Meter outra pessoa a fazer esse papel era como meter...alguém...muito diferente do George Jetson...a fazer de George Jetson (hoje não estou especialmente dotado para metáforas).

De qualquer modo, para ilustrar esse ponto de vista, em vez de meter uma foto do John Goodman, meti uma foto do gajo que interpretou  o Fred Flintstone na sequela. Sim, houve uma sequela (passem-me o creme solar de factor 50, que Hollywood já me esturrica a pele). Não tem nada de Fred Flintstone, pois não?
Agora, para realçar ainda mais, tá aqui uma foto do John Goodman, sem sequer estar com a fatiota vestida. Pois...












Fred Flintstone adora bowling, mas não joga aos sábados. SHOMER SHABBOS!
  

# 4

Spy Kids - Danny Trejo


Duvido que muitos de vocês tenham visto, ou pelo menos se lembrem de alguma coisa da trilogia Spy Kids do...Robert Rodriguez (ao fim destes anos todos, ainda não soa bem).
Eu também não, mas recentemente vim a descobrir que, sem se saber, nascia uma lenda. Danny Trejo já tinha aparecido em filmes como Desperado, From Dusk Till Dawn e Con Air a fazer algo parecido.
Mas no Spy Kids (de todos os filmes do mundo, logo no Spy Kids) Danny Trejo aparece a fazer de...Machete.
Ainda fica mais absurdo quando no imdb diz que o filme Machete é um spin-off da trilogia Spy Kids. Portanto, canonicamente é a mesma personagem!
Mas pronto, sem precisar de metáforas complicadas, meter Danny Trejo a fazer de outra coisa que não de Machete, era como meter um tubarão num buffet de saladas.
Pegar num ex-toxicodependente e bandido que se sagrou campeão de box presidiário em duas categorias diferentes durante os 11 anos que esteve a servir em San Quentin e metê-lo a fazer de Machete num filme para putos...não sei o que dizer sobre isso, mas que o Rodriguez teve olho, isso ninguém lhe tira.


#5

Get Smart - Steve Carell

Todos os que conheço que viram o filme, saíram da sala a dizer "Of course! The old hollywood plotless remake of a cult classic with a hot chick and a comedy star trick!".
Como já tinha visto o Astérix, não caí na mesma e não vi o remake de Get Smart (Olho Vivo), mítica série, uma das minhas favoritas de sempre, com o cunho de Mel Brooks "himself".
Talvez dentro da fasquia dos outros filmes desta lista este não será tão mau (dizem).
Mas um fã de Indiana Jones que já tenha a trilogia em DVD não vai comprar uma caixa nova por causa do 4º filme, tal como um fã de Get Smart dificilmente encostava a capa do DVD deste filme à box de coleccionador da série original.
Mas há que se lhe tirar o chapéu a uma coisa: como se vê na foto, Steve Carell é igualzinho ao Don Adams (e não tem absolutamente nada de parecido com o Ricky Gervais, se é que me entendem).
Ainda para mais, o género de humor de Carell é exactamente o indicado para fazer de Maxwell Smart. Seco e sério, não se apercebendo de que não dá uma pá caixa (aliás, se bem me recordo, apenas a agente 99 se apercebia disso).
Pode-se dizer que isto é a versão Bizarro (acabei de gastar todo o conhecimento que tenho acerca do Super-Homem) de Steve Martin a fazer de Jacques Clouseau. Mas isso ficará (ou não) para outra lista.

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